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terça-feira, 26 de abril de 2016

Fungos da imortalidade
.
Antes de encontrar a solidão 
o antigo e elegante Lao-Tsé
entregava-se às delicias sensuais
no interior dos flutuantes bordéis.
Pulverizado o sorriso cínico do velho
permanecia na flor do pessegueiro
quando na fenda sedosa do pêssego
enfiado passava belas noites de orgia.
Assim com os fungos da imortalidade

dormiam as verdes montanhas da China.

A Poesia É Necessária

...
A feitura de um poema
Numa noite de arribação
Isso é coisa de poeta
Né pra todo mundo não
Queimar no inferno do verbo
Com o Anjo caído Tição
Isso é coisa de poeta
Né pra todo mundo não
Tratar as vísceras dos versos
No gume de amolação
Isso é coisa de poeta
Né pra todo mundo não
Que as trombetas da poesia
Seja do povo a salvação
Isso é coisa de poeta
Né pra todo mundo não
Mas se a poesia é necessária
Mais que farinha bolacha e pão
Isso é coisa só de poeta ?
Né pra todo mundo não?


Calaça



Do Massapê


...
Foi na levada minha primeira morada
Fumando liamba dançando macumba
Coco de roda, Chegança, Embolada 
Sou Guerreiro treme terra cabra da peste
.
Filho da lama do barro das águas do Mundaú
Primo e irmão do maracatu agreste
Sou das entranhas das carnes do sururu.
Na goma da mandioca encontro a força dos Caetés
.
E de minhas palavras vem as lavras dos cordéis
Sou do Nordeste Alagoano das terras dos menestréis
Da poesia de Jorge de Lima o acendedor de Lampião
.
Sou fã do forró- pé-de-serra de Vavá dos oito baixos
Da fuleiragem brincante do Mestre Tororó do rojão
Sou casca caldo e nó das canas de açúcar desse torrão.
.
Calaça.
Rio de Ossos e Pedras
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terra das ramas secas de orvalho
o rio na lembrança dos mais velhos
são memórias dos antepassados
.
o vento aqui é invisível ou leve
sopro das narinas de um dragão
o caminho queima seco e duro
o sol urtiga que queima o chão
.
espantalhos do nada enraizamos
na terra a esperança em cactos
seco corre o rio nas linhas das mãos
procissão fé novenas e pactos
.
moldando em espinhos o orgulho
só a volta para farinha da rocha
é a única certeza real desse torrão
.
Bento Calaça
Zinabre da Morte
.
Chumbo perdido
besouro sem asas
voláteis sedento
fazendo inocentes
chumbo perdido
um grito de dor
a noite fedendo
ferida e horror
chumbo perdido
da morte o espinho
que mata e crava
que crava e mata
apagando caminhos

Calaça

segunda-feira, 25 de abril de 2016

As Nove Deusas Canônicas
..
Calíope.
.
Vem comigo amada musa
pra chuva, cantar nas noites de fogo.
Traz o menino poeta que fui um dia
inspira-me tal qual fizeste com Orfeu
devolve-me para minhas lembranças
liberta meu espírito leve de criança.
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Clio,
Que ecoem as trombetas e os clarins
em tua homenagem, ninfa da fama!
Contigo aprendi a burilar meus poemas
ter domínio dos versos, ouvidos de aprendiz
e da tua clepsidra antiga extrair o tempo.
Leva-me ao sol do som, amante da música!
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Érato,
São das tuas flores e doçura o prazer
de escrever versos borrifados de alegria.
Com a flauta que amolece as pedras do caminho
vai recolhendo do vento as folhas secas com carinho
e letras florescem em flores na maior das fantasias.
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Tália,
Mil sábios não teriam o valor de um só bobo
que enfeitiçaste com o condão da cômica
máscara, e borzeguins. És o feitiço do jogo
porta-voz da comédia, alegria é a tônica.
Que o chá de tua Hera dê à voz, substância.
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Melpômene,
Grãfunesta do Monte Olimpo. Consagrada
pelo sumo, digo, vinho doce de tua videira.
Apesar da canção de tua tragédia, és amada.
A mantilha que envolve teus pensamentos tensos
desnuda-me por dentro, e eu sinto que cresço.
Nas tuas a parições aprendi o valor do silêncio.
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Terpsícore,
Mãe das sereias, encantas os poetas com ilusões
divindade da dança, contigo todo vivente rodopia.
Por vezes, tocas, à regência dos ossos no compasso
a música de uma lira com a cadência dos teus passos.
O céu das profundezas do mar, dominas em harmonia.
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Urânia,
Celestial entidade que embala o globo terrestre.
Aos pés do Monte Olimpo, com teu vestido celeste
do mesmo pano de fundo, que descortina o céu.
Acalmas os mares, balanças o sono dos astrólogos
indicas o rumo e navegas as equações matemáticas.
Rogam por tua inspiração, agricultores e astrônomos.
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Polímnia,
No véu branco e pensativa num pedestal alto
te encontrarei meditando, em História e Filosofia.
Com as velas infladas, singrarei até o raiar do dia
o rio divino dos teus hinos, até a sagrada melodia.
De lá verei tua face no mármore dos capitéis.
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Euterpe,
Sempre que te invoco, ouço de longe tua flauta doce.
Quando as palavras em chamas acendem pelo roçar
de tuas asas em meus pêlos, cresce meu caralho.
No vinho do erotismo, a poesia entra por um atalho
e os primeiros poemas mal ditos gemem em orações.
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Bento Calaça
PARABOLE
.
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Poderosa barganha. Morde, amordaça, acarinha...
O elixir da vida, tutano do ódio, amazona da língua.
A guardiã dos segredos dá força e mistérios ás orações.
Estrela radiosa. O sol dos vivos, o sal dos mares.
O caos dos mortos, iodo dos leprosos, o cal da vida.
Apaixona, aproxima, lambe, lambuza e escarra na cara.
Encara, mente, trai, domina exércitos, ordena carnificinas.
Rosa carmim, jogada no escuro é lâmina e crava.
Ama, desencanta, emprenha os incautos, nina e faz dormir.
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E com vocês: Sua Excelência A P A L A V R A.
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B. Calaça
Hóstia sagrada dos Andinos
..<
Parece-me que foi ontem que fui a La Paz
com meu amigo Hernán Hunanca, mascar folhas
de coca.
Minha primeira mascada sagrada na fonte
embrenhados na comarca de Yungas e o Tititaca
entre coloridas cholas e camponeses cocaleiros.
Parece-me que foi ontem quando a grande esfera
de prata descia do véu branco das montanhas
em oferenda a Pachamama. Meu espírito vagou pelas
Plantações das aldeias em rituais a deusa e mãe
das terras andinas.
Parece-me que foi ontem nas margens do gigante colossal
Pedra do Puma, que senti a brisa do sangue Inca e o cheiro
da carne cortada na lâmina da espada Espanhola.
E meu espírito ainda jovem de revolução consternado chorou. 
Masquei coca contemplando o gigante silencioso
Lago Tititaca.
Bento Calaça
de la Mancha & Dulcineia
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- cada vez mais bela
como a face da lua nova
.
- eu cavaleiro já enferrujado.
.
- mas, nem Thor com seu martelo
ou Moisés com seu poderoso cajado
nem assim, d'escravo de sua janela.
B. Calaça               
Joana Guerreira
<..
De baixo de teus caracóis negros
O verniz nos olhos castanhos em mel 
Refletem no sorriso simétrico de pinha 
Brilhando por todo o rosto de porcelana
.
Tua voz é tango para meus ouvidos
Brasa para meus gravetos frio de inverno
Teus lábios em favos translúcidos e doce
É um eterno beijo cigano com garras felina
.
Uma legião de demônios tu vencerias
Santa guerreira com o aroma das flores
São mágicos os dias que passo ao teu lado
.
Eu soldado de chumbo ainda aprendo
Contigo ser leve barquinho de papel
A singrar os mares e outras savanas.


Bento Calaça
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