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domingo, 29 de março de 2009

Crime na Sala de Jantar

uma senhora madura
quase mulher doce perfume
á mesa de jantar serena,

destino selado na faca fria
mangifera indica sangra mel
talhada retalhada a lâmina,

moscas perfumadas gravitam a sala

terça-feira, 24 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

Oração da Fome

Mal cabe na janela
a lua cheia de vigor
se a cidade doente
vomita ócio e ódio

Mal cabe na janela
essa lua marasma
solidão de olhares vazio
na noite sombria
de eternos fantasmas

Mal cabe na janela
a lua lambuzada de luz
porque aqui as noites
são trevas
para quem tem fome

Mal cabe na janela
a lua branca e doce
se na amargura
quedam-se alguns
na esperança
de sonhar a pão e água

sexta-feira, 20 de março de 2009

Teias

Não há Saída
Nas tuas Teias
Embora senhora
Ainda te ame

Profano amor de aranha
Na complicada fiagem fria
Eu me perdia
Embora senhora
Ainda te ame

E a existência
Vai findado-se
Tão curta foi minha vida
Querida senhora
Ainda te amo

Shopping Center-Tour

Os bundas
cabeças fétidas
passam morcegos por mim

na praça de alimentação
galinhas coloridas
comem merda

etiquetados e monossilábicos
vão ficando, bundas-galinhas
pela vida...

Paixão

Amor
sem asas.
Que bate

sobre
o rochedo
e Sangra

quinta-feira, 19 de março de 2009

Guerreiros do Cerol



.céu azul
. criança
. cores e gritos

..........Pipas decapitadas
.desmancham-se em zumbidos

......pássaros de papel

........quase kamikazes

sou ....guerreiros do vento divino

............e....... do vidro

O Dia "D"

Ela
 tem o poder da revolta
só espera uma das asas sarar
para alçar vôo ao penhasco

eu aqui do meu vale
darei mil cambalhotas

quarta-feira, 18 de março de 2009

Zé Limeira O Poeta do Absurdo

No mote dado a Zé Limeira em Campina Grande: Escrevi o nome dela/Com o leve do azul do Céu, disse:

A minha póica maluca
Brigou com setenta burro
Deu cento e noventa murro
Na cara de Zé de Duca
Dei-lhe um bofete na nuca
Que derrubei seu chapéu
Vai chegando São Miguel
Montando numa cadela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do Céu.

Eu me chamo Zé Limeira
Cantador do meu sertão
O sino de Salomão
Tocando na laranjeira
Crepusco de fim-de-feira
Museu de São Rafael
O juiz prendeu o réu
Depois fechou a cancela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do Céu.

Quando Abel matou Caim
No Rio Grande do Sul
Deu-lhe um quilo de beiju
Com as beradas de capim
Nisso chegou São Joaquim
Que já vinha do quartel
Cumode prender Abel
Dois pedaços de costela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do Céu.

Rio de Ossos e Pedras

(...) rio menino eu saltava
Saltei até encontrar
as terras fêmeas da Mata.(...)
F.Gullar.

terra das ramas secas de orvalho
o rio na lembrança dos mais velhos
são memórias dos antepassados

o vento aqui é invisível ou leve
sopro das narinas de um dragão
o caminho queima seco e duro
o sol urtiga que queima o chão

espantalhos do nada enraizamos
na terra a esperança em cactos
seco corre o rio nas linhas das mãos
procissão fé novenas e pactos

moldando em espinhos o orgulho
só a volta para farinha da rocha
é a única certeza real desse torrão

Adormecido No Vale - Arthur Rimbaud



Tradução: Ferreira Gullar

É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.

Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.

terça-feira, 17 de março de 2009

Tormentas

Feras deitam unhas na noite
Luz sombra sangra gemendo
Carne fresca vendida em orgias
Por parasitas que engordam

No desespero que a fome traz
Corpos semi nus evaporam se na noite
Perdendo o orgulho ganhando em ira

Possuídos devoram se o ócio até o tutano
Olhos de peixes nas mãos corroídas
Com línguas e falos a pele tateia

Os corpos amanhecem ocos
Umbigos entram em órbita
A nave cheira sangue e sêmen
olhos semi mortos fitam os céus

segunda-feira, 16 de março de 2009

Labirintos á espreita de Leopardos

. . .


não ter mais travesseiros pálidos
e sim labirintos à espreita de leopardos
garras feras e feridas só para o querer

nas tuas crateras sentir o fogo da erupção
com vinho nos lábios sugando seus seios quentes
quero lavas vulcânicas escorrendo por tuas fendas

quero um amor para depois dos corpos em terremotos
juntar os escombros e recomeçar.

Amor'Cegos

noites que os morcegos riem
sombras como crianças em ecos
pulavam das arvores em sono
e roubavam lindas sapotas doces

das presas escorre o mel e sementes
asas planam num vento frio e leve
enquanto sapotas são devoradas
no amor cego e livre dos morcegos

e o sonar de ecos escuta rebentos
na fria caverna o querer de mamar
antes dos primeiros raios laranja
as fêmeas amamentam em trapézio

a noite exala leite de mamíferos voadores

então é natal...

uma coca cola
sem gás
o natal dos excluídos

eu gostaria de dizer feliz natal
para todos na rua
mas não posso...

enquanto uma criança
perguntar a sua mãe
se no céu tem pão

meu natal
é negação

Ira de Verão

cão furioso
sarnento sem pêlos
que apodrece
babando câncer

sobe ao pino
torrando pele e ossos
irado de ódio
velando carne

todos dias
no crepúsculo doente
queima estilhaçada
a cidade de concreto

Nostalgia Aromáticas


Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
(...) Carlos Drummond


No meu tênis bamba branco eu voava
nas asas da naftalina para escola
o perfume primaveril dos jasmins
nos cabelos da professora. O ruido do giz
nas letras, números, lousa, horas...

O lanche ás pressas no recreio das lancheiras
o aroma verde e doce dos pés de frutas; carambola
jaca, manga, pitanga, pitomba, frutas- bolas
o perfume das bananas no ventre das bananeiras.

O cheiro bom de quintal da chuva no barro
no mato capim-açú, o gosto de segunda- feira
do banho domando o rio, da farda branca e azul.

Nada finito cabia em nossos sonhos, sonhávamos
os sonhos perfumados. Da infância ainda guardo
nos olhos represados fragrâncias do passado.

uma rosa e um poema

um dia de sol pingando
cozinhei até onde deu
para te comer macia
tuas carnes variadas

antes fui só lambedor
lambendo tua estrela
chupando todos teus ossos

agora eu quero carne
provar das tuas entranhas
mastigar setenta vezes
te engolir com o teu sangue

és saborosa linda Alejandra!
carne amaciada em poema
tenro presente dos deuses


Olhos gélidos, ainda fitavam uma rosa...

domingo, 15 de março de 2009

A Fresta

lembro me de uma telha quebrada
que pelo meu quarto vazava o universo

nos dias de arco-íris era uma festa
cores reluziam até nas costas das moscas
que voavam pelo quarto com pedaços de céu

por essa fresta penetrava em outros mundos
porque o meu não me cabia
mergulhei profundo na criança assustada
cheia de ilhas solitárias que fui um dia

mudei de casa para um quarto sem fresta
quando podia fazer o que me desse na telha
não fiz...

Poema Para Uma Biblioteca

A pureza do silêncio
move palavras espectrais
ouve-se o vento e o mar
nas páginas de um livro.

O silêncio faz crescer ostras
cristaliza pérolas, lima pedras
dá asas a peixes e cobras.

O silêncio devora florestas de livros.

O Mar

é ainda
a mesma criança
de minha infância

para uma moça que queria se reinventar

para se mudar o passo
muda-se primeiro a sombra
em uma parede virgem de lagartixa

espera-se a primeira lua
nova bater na parede
aí dá-se o primeiro passo
(sempre com o pé esquerdo)
ao contrário da sombra

é na parede que o passo se alinha
à nova cadência da alma.

o nome vai se ajustando
num parafuso de rosca francesa
para aproveitar o perfume de uma estrela

passo e nome mudados,
dê um tempo com eles
num quarador com anil


é só para não ficar resquício de um ex amor
mal lavado.

(Revisão e cortes, **Cris a própria musa)

Transformação

a dor sentida da ferida doce
substância estranha na ostra
um dia coça o tumor esquecido
e cristaliza essa dor pungente

no mar
sempre salgando a dor
a esperança da gema em pérola

Os Olhos de Meu Pai

os olhos de meu pai
eram dois capetas verdes oceânicos

olhos de mergulhos em decotes
um olho na carteira outro no gato

olhos de uma esperança doce mas que as vezes
eram pimentas nos olhos da gente

os olhos do meu pai não eram refresco...

Borboletas e Mariposas

a mãe uma borboleta
nem flor nem pássaro
uma borboleta

o pai era um sorriso
embriagado dos perfumes
das mariposas

as mariposas uma nuvem de putas
que se equilibrava sobre a aura
de nossa casa

a casa ora a oração da mãe
ora os perfumes das putas do pai

eu era invisível
como o ódio da mãe
e o sorriso perfumado do pai

um dia a casa ruiu
sob um forte temporal
vi minha mãe partir em silêncio

O Poeta

De fantasma na noite,
Também brinco pastorando
Palavras entre estrelas.