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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Reveillon

.

.

.

Comia os restos
de um ano velho.
Enquanto pipocava
o novo,
a esperança nascia
entalada na garganta...


Memórias

Hoje me falta o natal
com as tintas da infância
para pincelar os meus sonhos

meu desejo era pendurado
numa arvore para compor a fantasia
iluminado pelas estrelas
amanhecia concreto para minha alegria

porque natal
era tão simples e colorido
naqueles dias...



domingo, 6 de dezembro de 2009

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Romaria

os miséraveis da fé
nesse caminho de urtiga
cravam esperança no peito
dando ao gesso frio da estátua
vida...

são palavras debulhadas
no bafo da oração
como leite na pedra
escorre a procissão

nossa senhora
a mãe das dores
escuta as súplicas
do seu andor

domingo, 25 de outubro de 2009

Pound, O Homem da Máscara de Ferro






nem mesmo vivendo como um símio
numa cela de metal sobre as ruínas
do aço ao farpado do arame
a mente daquele homem
esteve confinada.

da saga dos doze anos ao manicômio
do ovo metálico ao universo dos cânticos
alçou vôo ao sol

como infinito era o caminho de rugas
na face daquela máscara
infinita era até o final a sua deidade


nos fragmentos do velho poeta
asas sobrevoam até hoje
a ilha de San Michele
renovando dia a dia o sol dos condenados





sexta-feira, 23 de outubro de 2009

24 de Junho

.
.
.

naquela noite ele apostou
na sorte
acreditou que a bomba
dormia


um flash como fotografia
o estampido grito de horror
a mão decepada
cai fofa no esterco


o mutilado sangra
pelo vazio do braço
tingindo de vermelho o vento

esfacelado a dor estanca
da agonia com a fé no santo


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Diário de um Náufrago


O mar visto da pedra onde estou
transborda pelas manhãs
de peixes e pássaros

não eram minhas as mensagens
que recebia em garrafas na praia
mas com o tempo foram sendo...
fiz verdades em garrafas de outros.

Eu, que nunca tive um Deus,
com quase meio século
descubro ser o meu Deus
o mar.
Temperamental e traiçoeiro

às vezes manso como um cordeiro
dissolve-se em sal no azul do céu
enquanto gaivotas, voam penas
feito folhas.


Ateei fogo ao passado
para dormir em travesseiros de cinzas
e da ilha dos sonhos
nunca mais voltar

Engolido pelo pôr do sol



sexta-feira, 18 de setembro de 2009

LABIRINTO DE IMPRESSÕES

corações
de vidro
na casa espelham

labirintos
imagens surradas
de sonhos

em vão vazios
deitam
não dormem

corpos
ensopados de mágoas
tecem

na intriga teia
a vida
segue torta


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

TERMINAL

...

(...) Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor. - C. Drummond de Andrade




O branco em excesso
das nossas paredes
é de um silêncio insensato
lá fora varre a vida o vento
cá dentro jogamos paciência
na ilha que é nosso quarto

Sem vida grudada seca indolor
 mascada pelo tempo
Agoniza na cama
a máscara carcomida do nosso amor...


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

CLASSIFICADO

Moça vermelha
que traz o sol
nos cabelos
e tingia esperanças
para donzelos pálidos

procura mancebo
para colar figurinhas
no verão de Maceió
depois que o sol
dormir com as últimas
nuvens acabrunhadas.

Sou simples

minhas maiores exigências:

que o candidato
no hálito traga
o frêscor das pitangas
nas vestes (camisa e calça)
cores pinceladas
das asas do tangará.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Ainda é tempo

de dias felizes

a esperança

mistura as tintas

pincela sonhos

para refazer antigos arco-íris.

Há esperança

enquanto girarmos em torno do sol

com os pés atolados na vida.


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Rosa em Lavas

Que mistério infinito
guarda a rosa no cio
quando esta em erupção?

Nuazinha em pêlo
rosa é carne trêmula
que guarda segredos

No cume da rosa
a língua roça no sal
para temperar o perfume

Onde ardem os amantes
no intimo do seu ser
rosa queima em lavas

Incendeia-se o silêncio
a língua lâmina suga
o último gozo de rosa


Toada

O tempo mastigado,
Toca o vaqueiro a vida
A canção que toca o gado.

Caminho duro na brisa,
Arde no escuro
A brasa de uma estrela!

Anjo duro feito pedra,
Toca a vida e o gado
Levando no papo o orvalho.

Fio a fio sendo fiada,
Transborda a vida o orgulho
Na sombra de sua manada.

Encanto canto silencioso,
Nas cinzas de uma estrela
passa boi, passa vaqueiro,

Tonante em sua toada.

INSTANTE

Na calçada;

penúria imóvel
preto em pétalas ,

o gato existe de menos
o nada flui..

sábado, 8 de agosto de 2009

Corte&Costura

Minha mãe algumas noites

alinhavava
alguns
pesadelos medonhos

costurava meus sonhos...

eu voltava a dormir
em seus cerzidos
contos de fadas



quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A Saga de Zé Tembrino e o Orégano Cor de Rosa

Zé Tembrino
o mensageiro da morte
o estupor coisa ruim satanás

caboclo do sertão
criado no leite de cabra
matava feito a peste cabeluda

inventou de fumar
orégano cânhamo prensado
para dançar a dança da chuva

ai meu amigo
o hômi ficou doidão
no juízo acendeu várias centelhas

viu borboletas
fingindo serem flores
num beiral de uma calçada

cuspiu rosas vermelhas
com espinhos
na cara de Barrabás

viu o sol na curvatura
voando
no espinhaço de uma vaca

correu vaguejada
laçou boi
no lombo de um cavalo marinho

em putaria com medusas
nas margens do velho chico
foi visto nuzinho

colou estrelas
de plástico
na asa de seu pinico

estrelas que capturou
das vezes que foi ao espaço
em cima de um trator

depois daquele dia
nunca mais o hômi
prestou

dizem que deixou
até de ser matador
hoje não mata nem galinha...

foi só fumar
o orégano cor de rosa
que o capiroto amansou

credo, cruz, ave maria!


segunda-feira, 3 de agosto de 2009

sábado, 1 de agosto de 2009

Desejo Que ...


……...................................@@@@
...…............o00o.............@@()@@
......vVVv..00()00........._...@@@@
.....(___).`0000´..._.(_)_......L.........wWWw
.....~Y~........|.......(_)@(_).....|.........(_____)
.......\|..........\|/....../.(_).......\|/...........~Y~
.....\\|///......\\|//..\|/...........\\|//..........\\|//

Afunde-se
no esterco
das rosas

terça-feira, 28 de julho de 2009

Piranhas Uma Cidade Um Poema

Lapinha cravada nos montes, Piranhas
Contempla o velho chico lento
Rio azul dos acalento.

Passa Francisco, rio passado presente
Lavando lapidando as pedras d'Piranhas
Peixes cidades gente, banham-se as entranhas.

Do alto de xingó a canção do rio
No fim da tarde traz a musica das montanhas
No assobio do vento acende-se Piranhas

Noite ou dia paraíso do sertão
Quem teve nos olhos Piranhas
Lavou corpo alma coração

Como esquecer a velha estação
O museu da pré-história do cangaço?
Da alegria do seu povo da hospitalidade d'Inácio!

Da hidrelétrica do Xingó
dos anjos branco de piau
Das esculturas d'pedras e carrancas de pau

Da folia dos bares da prainhas
Do caldinho de peixe com cerveja e pitú
No banho passeio d' barco, no rio limpo e azul.

Piranhas cidade viva inesquecível
das casas arcos-íris
poema de minha íris

terça-feira, 21 de julho de 2009

Por nossas ruínas ancestrais - Calaça&Agatha

.



a casa rococó relicária
existe efêmera desencantada
as traças ruíam do brasão
aos ossos da família

o silêncio a falta de luz
o sol pálido esquecido
numa nuvem doente

a poeira acumulada
dos antepassados
tiram o brilho e o glamour
dos quadros patriarcais

feito herança maldita
de sabujos e proscritos
emoldurados na servidão
de sua linhagem decadente

enquanto amarelam
os cantos das salas vazias
os berços legados
esperam mais um...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Nóia

no anoni
mato
colando os pedaços
do nada
levanto-me
pari passu
puxando mato
volto
a puxar o gatilho

segunda-feira, 6 de julho de 2009

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Recordações

(...) essa mulher é um mundo! - uma cadela
talvez...- mas na moldura de uma cama
nunca mulher nenhuma foi tão bela ... Vinicius de Moraes

Nela havia um segredo dissimulado
E que de tanto tentar entende-lo
Ouvia-se sons do quebranto do mar
Em búzios que pairavam o silêncio

Uma boca madura doce sugava-me
Alquimia do toque da língua em choque
O percurso era de rio sem rumo redemoinho
Imaginava-me escravo as correntes de um deusa

Os corpos fremiam feito bandeiras ao vento
Sugando-me seiva aos urros do sal a saliva
Em leite pêlos pele e poros transbordavam

Vazios nossos corpos pairavam na névoa
Os olhos olhavam-se lacaios dos desejos
Enquanto feromônios perfumavam nossos lençóis





domingo, 28 de junho de 2009

Insana

escuto sinos
de uma fabrica fantasma
de tecidos para as vestes de freiras virgens
sinos
molhados sons roucos
gregorianos temperando as gargantas
enquanto isso ao longe
mergulha parte de si a lua nova
no rio de nevoa densa e caudalosa

o rio que perdeu a força
assiste peixes fingindo ser muitos
no frio do pátio da igreja
ringe o piso cravado pelos saltos dos seus sapatos
proibida de entrar na nave depois de ter beijado
o padre na boca com o batom ameixa vencido
a louca, cumpre sua sina
o pecado é rupestre antigo
esse povo que não acorda a inocência nem na neblina
não vê a beleza leitosa e insana dessa cidade...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

sábado, 13 de junho de 2009

Aurora Insone

... você é a Aurora
que não dorme, por isso
é mais fácil chegar em você
não tem mais aquele lenga lenga
de acordar a Aurora, saculejar pra lá e pra cá
beijar aquele bafo de amoníaco há anos dormido e tal...
em sua trajetória nem malévola nem dragão.
Não Aurora! você já vai estar sempre acordada, linda e maravilhosa
cheirando a flores do campo silvestre e selvagens.

O Infante, não vai ter trabalho nenhum, é chegar beijar e partir
a galope num ruminante além da felicidade do sem fim !

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O OVO DO MUNDO

a gema do sol
rompe a casca
deita se macia
nas águas do rio

as nuvens
alaranjaram se
e raios de luz
abrem os caminhos

a grande casca
branca
rompida ao meio
são portais
da beleza
do inferno na terra

o belo
era tão belo
que virou pesadelo

domingo, 7 de junho de 2009

Enquanto Dorme Esparta

A cidade longe ao relento
depois de vitórias e orgias
nem sonha que sua rainha
dormia com um pássaro branco

tarde pálida no rosto rubro
dos últimos raios de sol em Leda
que deita com um cisne em penas
num sol que a funda na tarde meloso
o arensar exitar a ninfa, num gozo melodioso...

Á noite passa criança
Zeus se desencanta
Leda seduzida guarda
no ventre dois ovos de um Deus.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

domingo, 17 de maio de 2009

Eros E Psiquê - Fernando Pessoa

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

sábado, 16 de maio de 2009

Amor Quizumba

Embaça na janela fria
o amor
o amor que ás vezes passa

Amor de vidraça

Na luz âmbar das ruas
amor quizumba
que zomba

Amor,
Seta reta certeira
sangra, crava e passa
ás vezes fica.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Fatal

o charme
em X
das tuas pernas

cruzam meus olhos vadios

O Jornal

A trombeta de um galo querubim
anuncia o dia
jornal quentinho como pão
vidas crocantes
fermenta a massa em ebulição
nos classificados vendem-se corpos
na página policial
história do momento;
CRIME PASSIONAL !

Com pão o jornal digerido quente

todos os dias bebemos do sangue
e comemos do pão que o diabo amassou

terça-feira, 12 de maio de 2009

Deus Insone



Rastros riscos rabiscos

 quase espectro um trem pequenino

na espessa neblina onduladas do Himalaia

cilíndrico nem quebra o silêncio o rouco apito

será que existe? e se não for verdade?

é sonho rabiscado de um trem mal desenhado

que um deus insone insiste em desenhar

lá das montanhas do Nepal

e para não sonhar com o capeta...

Os cães ladram; e eu acho é tome!
lexotan, diazepam, gardenal.

para uma moça em preto e branco

até sem cores
te vejo
arco-íris

domingo, 26 de abril de 2009

Vida Oxidada

Cega e surda Juventude
comida de traças em transe
lâmina doce suicida em chamas
fazia dos meus dias fogo corredor
quando tudo não fazia sentido
a vida tinha cores e sabor

Chocolate era minha droga
para amar as mulheres vãs
era um inferno meu paraíso
amava com um ódio do cão
sangue jorrava em cada estocada
a febre do amor era o domínio

mas o tempo nas junturas dos ossos
oxidou os sonhos enferrujando o desejo

sábado, 25 de abril de 2009

Pingente Da Morte


Bala perdida
besouro sem asas
volátil sedento
fazendo inocentes

Bala perdida
o coice da dor
a noite fedendo
ferida e horror

Bala perdida
 da morte o espinho
que mata e crava
que crava e mata

apagando o caminho...

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Foi Assim

na presença de São Jorge e o dragão
rosnando nos meus ouvidos
conheci Berenici lambe sola
princesa das sombras
daquela oficina de corpos

escrota, grelo apertado e roxo
enroscou o meu cacete
num chumbrêgo da muléstia
vadiagem varrida...
siririca, siribobéia , carinho de mão
sessenta e nove, guaiamum
naquele quadrilátero sombrio
nas fendas daquela santa
descabacei me corpo e alma.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Beijo

Na harmonia
entre a testa
e o queixo

arde uma boca de fogo
arde e eu desejo
o desejo oscila
eu vacilo

suga - me uma língua
leve e doce
a boca dessa criatura
não se finda

num minúsculo
naco de tempo
sou dono dos teus enigmas

domingo, 29 de março de 2009

Crime na Sala de Jantar

uma senhora madura
quase mulher doce perfume
á mesa de jantar serena,

destino selado na faca fria
mangifera indica sangra mel
talhada retalhada a lâmina,

moscas perfumadas gravitam a sala

terça-feira, 24 de março de 2009

domingo, 22 de março de 2009

Oração da Fome

Mal cabe na janela
a lua cheia de vigor
se a cidade doente
vomita ócio e ódio

Mal cabe na janela
essa lua marasma
solidão de olhares vazio
na noite sombria
de eternos fantasmas

Mal cabe na janela
a lua lambuzada de luz
porque aqui as noites
são trevas
para quem tem fome

Mal cabe na janela
a lua branca e doce
se na amargura
quedam-se alguns
na esperança
de sonhar a pão e água

sexta-feira, 20 de março de 2009

Teias

Não há Saída
Nas tuas Teias
Embora senhora
Ainda te ame

Profano amor de aranha
Na complicada fiagem fria
Eu me perdia
Embora senhora
Ainda te ame

E a existência
Vai findado-se
Tão curta foi minha vida
Querida senhora
Ainda te amo

Shopping Center-Tour

Os bundas
cabeças fétidas
passam morcegos por mim

na praça de alimentação
galinhas coloridas
comem merda

etiquetados e monossilábicos
vão ficando, bundas-galinhas
pela vida...

Paixão

Amor
sem asas.
Que bate

sobre
o rochedo
e Sangra

quinta-feira, 19 de março de 2009

Guerreiros do Cerol



.céu azul
. criança
. cores e gritos

..........Pipas decapitadas
.desmancham-se em zumbidos

......pássaros de papel

........quase kamikazes

sou ....guerreiros do vento divino

............e....... do vidro

O Dia "D"

Ela
 tem o poder da revolta
só espera uma das asas sarar
para alçar vôo ao penhasco

eu aqui do meu vale
darei mil cambalhotas

quarta-feira, 18 de março de 2009

Zé Limeira O Poeta do Absurdo

No mote dado a Zé Limeira em Campina Grande: Escrevi o nome dela/Com o leve do azul do Céu, disse:

A minha póica maluca
Brigou com setenta burro
Deu cento e noventa murro
Na cara de Zé de Duca
Dei-lhe um bofete na nuca
Que derrubei seu chapéu
Vai chegando São Miguel
Montando numa cadela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do Céu.

Eu me chamo Zé Limeira
Cantador do meu sertão
O sino de Salomão
Tocando na laranjeira
Crepusco de fim-de-feira
Museu de São Rafael
O juiz prendeu o réu
Depois fechou a cancela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do Céu.

Quando Abel matou Caim
No Rio Grande do Sul
Deu-lhe um quilo de beiju
Com as beradas de capim
Nisso chegou São Joaquim
Que já vinha do quartel
Cumode prender Abel
Dois pedaços de costela
Escrevi o nome dela
Com o leve do azul do Céu.

Rio de Ossos e Pedras

(...) rio menino eu saltava
Saltei até encontrar
as terras fêmeas da Mata.(...)
F.Gullar.

terra das ramas secas de orvalho
o rio na lembrança dos mais velhos
são memórias dos antepassados

o vento aqui é invisível ou leve
sopro das narinas de um dragão
o caminho queima seco e duro
o sol urtiga que queima o chão

espantalhos do nada enraizamos
na terra a esperança em cactos
seco corre o rio nas linhas das mãos
procissão fé novenas e pactos

moldando em espinhos o orgulho
só a volta para farinha da rocha
é a única certeza real desse torrão

Adormecido No Vale - Arthur Rimbaud



Tradução: Ferreira Gullar

É um vão de verdura onde um riacho canta
A espalhar pelas ervas farrapos de prata
Como se delirasse, e o sol da montanha
Num espumar de raios seu clarão desata.

Jovem soldado, boca aberta, a testa nua,
Banhando a nuca em frescas águas azuis,
Dorme estendido e ali sobre a relva flutua,
Frágil, no leito verde onde chove luz.

Com os pés entre os lírios, sorri mansamente
Como sorri no sono um menino doente.
Embala-o, natureza, aquece-o, ele tem frio.

E já não sente o odor das flores, o macio
Da relva. Adormecido, a mão sobre o peito,
Tem dois furos vermelhos do lado direito.

terça-feira, 17 de março de 2009

Tormentas

Feras deitam unhas na noite
Luz sombra sangra gemendo
Carne fresca vendida em orgias
Por parasitas que engordam

No desespero que a fome traz
Corpos semi nus evaporam se na noite
Perdendo o orgulho ganhando em ira

Possuídos devoram se o ócio até o tutano
Olhos de peixes nas mãos corroídas
Com línguas e falos a pele tateia

Os corpos amanhecem ocos
Umbigos entram em órbita
A nave cheira sangue e sêmen
olhos semi mortos fitam os céus

segunda-feira, 16 de março de 2009

Labirintos á espreita de Leopardos

. . .


não ter mais travesseiros pálidos
e sim labirintos à espreita de leopardos
garras feras e feridas só para o querer

nas tuas crateras sentir o fogo da erupção
com vinho nos lábios sugando seus seios quentes
quero lavas vulcânicas escorrendo por tuas fendas

quero um amor para depois dos corpos em terremotos
juntar os escombros e recomeçar.

Amor'Cegos

noites que os morcegos riem
sombras como crianças em ecos
pulavam das arvores em sono
e roubavam lindas sapotas doces

das presas escorre o mel e sementes
asas planam num vento frio e leve
enquanto sapotas são devoradas
no amor cego e livre dos morcegos

e o sonar de ecos escuta rebentos
na fria caverna o querer de mamar
antes dos primeiros raios laranja
as fêmeas amamentam em trapézio

a noite exala leite de mamíferos voadores

então é natal...

uma coca cola
sem gás
o natal dos excluídos

eu gostaria de dizer feliz natal
para todos na rua
mas não posso...

enquanto uma criança
perguntar a sua mãe
se no céu tem pão

meu natal
é negação

Ira de Verão

cão furioso
sarnento sem pêlos
que apodrece
babando câncer

sobe ao pino
torrando pele e ossos
irado de ódio
velando carne

todos dias
no crepúsculo doente
queima estilhaçada
a cidade de concreto

Nostalgia Aromáticas


Vamos, não chores...
A infância está perdida.
A mocidade está perdida.
Mas a vida não se perdeu.
(...) Carlos Drummond


No meu tênis bamba branco eu voava
nas asas da naftalina para escola
o perfume primaveril dos jasmins
nos cabelos da professora. O ruido do giz
nas letras, números, lousa, horas...

O lanche ás pressas no recreio das lancheiras
o aroma verde e doce dos pés de frutas; carambola
jaca, manga, pitanga, pitomba, frutas- bolas
o perfume das bananas no ventre das bananeiras.

O cheiro bom de quintal da chuva no barro
no mato capim-açú, o gosto de segunda- feira
do banho domando o rio, da farda branca e azul.

Nada finito cabia em nossos sonhos, sonhávamos
os sonhos perfumados. Da infância ainda guardo
nos olhos represados fragrâncias do passado.

uma rosa e um poema

um dia de sol pingando
cozinhei até onde deu
para te comer macia
tuas carnes variadas

antes fui só lambedor
lambendo tua estrela
chupando todos teus ossos

agora eu quero carne
provar das tuas entranhas
mastigar setenta vezes
te engolir com o teu sangue

és saborosa linda Alejandra!
carne amaciada em poema
tenro presente dos deuses


Olhos gélidos, ainda fitavam uma rosa...

domingo, 15 de março de 2009

A Fresta

lembro me de uma telha quebrada
que pelo meu quarto vazava o universo

nos dias de arco-íris era uma festa
cores reluziam até nas costas das moscas
que voavam pelo quarto com pedaços de céu

por essa fresta penetrava em outros mundos
porque o meu não me cabia
mergulhei profundo na criança assustada
cheia de ilhas solitárias que fui um dia

mudei de casa para um quarto sem fresta
quando podia fazer o que me desse na telha
não fiz...

Poema Para Uma Biblioteca

A pureza do silêncio
move palavras espectrais
ouve-se o vento e o mar
nas páginas de um livro.

O silêncio faz crescer ostras
cristaliza pérolas, lima pedras
dá asas a peixes e cobras.

O silêncio devora florestas de livros.

O Mar

é ainda
a mesma criança
de minha infância

para uma moça que queria se reinventar

para se mudar o passo
muda-se primeiro a sombra
em uma parede virgem de lagartixa

espera-se a primeira lua
nova bater na parede
aí dá-se o primeiro passo
(sempre com o pé esquerdo)
ao contrário da sombra

é na parede que o passo se alinha
à nova cadência da alma.

o nome vai se ajustando
num parafuso de rosca francesa
para aproveitar o perfume de uma estrela

passo e nome mudados,
dê um tempo com eles
num quarador com anil


é só para não ficar resquício de um ex amor
mal lavado.

(Revisão e cortes, **Cris a própria musa)

Transformação

a dor sentida da ferida doce
substância estranha na ostra
um dia coça o tumor esquecido
e cristaliza essa dor pungente

no mar
sempre salgando a dor
a esperança da gema em pérola

Os Olhos de Meu Pai

os olhos de meu pai
eram dois capetas verdes oceânicos

olhos de mergulhos em decotes
um olho na carteira outro no gato

olhos de uma esperança doce mas que as vezes
eram pimentas nos olhos da gente

os olhos do meu pai não eram refresco...

Borboletas e Mariposas

a mãe uma borboleta
nem flor nem pássaro
uma borboleta

o pai era um sorriso
embriagado dos perfumes
das mariposas

as mariposas uma nuvem de putas
que se equilibrava sobre a aura
de nossa casa

a casa ora a oração da mãe
ora os perfumes das putas do pai

eu era invisível
como o ódio da mãe
e o sorriso perfumado do pai

um dia a casa ruiu
sob um forte temporal
vi minha mãe partir em silêncio

O Poeta

De fantasma na noite,
Também brinco pastorando
Palavras entre estrelas.