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terça-feira, 14 de março de 2017

10 Poemas




Ben Zank
                                                            

 Zinabre da Morte


Chumbo perdido
besouro sem asas
voláteis sedento
fazendo inocentes
chumbo perdido
um grito de dor
a noite fedendo
ferida e horror
chumbo perdido
da morte o espinho
que mata e crava
que crava e mata
apagando caminhos

Torpedeando a Musa

se esse asteroide cair na terra hoje
fico te devendo o poeminha prometido
mas pelo menos levo lembranças
de teus selvagens delicados olhos de lince!

Impressões


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Folhas lá fora quebrando-se ao vento
dedal e retrós embolavam na mesa de costura
enquanto a hélice do tempo triturava as horas.
Na cozinha o cheiro do café descortinava o dia
uma fina neblina ganhava as curvas de uma manhã fria.
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Na aldeia os sonhos ainda têm asas
apesar dos desencantos das cinzas...

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Bento Calaça

Rosas de Pedras


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sem prumo nem reta
são lâminas sem fios
são arcos sem setas
são breus sem brios
é a brasa que chama
é a fome sem pão
é a sarjeta é a lama
sem teto nem chão
a brita a peça a pitada
o pino a pedra a casca
a roca a rocha a pipada
a kripta topada a pasta
a sopa de crack é o mote
luz amarela rosa da morte
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Bento Calaça

Bacanal


Do portal da luxúria empunhando seu tirso
e o cântaro de vinho no dorso de sua pantera
 deus da orgia da vinha e do bacanal, Dionísio!
Trazendo o perfume e a poesia da primavera,
as bacantes deliram selvagens e luxuriosas.
Soam as flautas tambores sinos e cravos
hoje as nove musas bebem nuas e gostosas.
Da orgia Mestre e discípulos são escravos,
poetas possuídos em delírio poetizam, evoé Baco!
Baco do balacobaco se contorce fanático e amoral
a religião é a poesia o vinho é doce não é fraco.
Os tímidos beijam-se de língua sem salvação
e com suas tochas ardentes queimam a moral
as nove ninfas de Zeus dançam nuas em oração.

Filhoses Fritos


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nas tardes de sábado
minha mãe e eu
atravessávamos o Capibaribe
numa canoa azul
para casa de tia Rosa
a casa era doce
a tia era doce
no fim da tarde
comíamos filhoses fritos
com açúcar e canela
polvilhados com afeto

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Bento Calaça

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Festa Junina
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Na praça a banda de pífano tocando
"A ema gemeu no canto do juremá"
O perfume primaveril da alfazema
Pamonha cocada canjica mugunzá!
O cheiro doce da chuva no canavial
Espada de fogo busca-pé infernal.
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O vento soprando nossas lembranças
Brisa na fumaça bandeirolas de papel
Chegou a sanfona segura o tropel 
"Briga de cachorro com onça"
"São João dos carneirinhos"
E tome cachaça quentão e quentinho.
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Somos meninos a brincar novamente
O céu é feliz com o ócio existente
Corrida de saco com ovo duro na colher
Tem beijo na maçã de uma linda mulher
Pau de sebo pau de escorregador 
Lá no alto tem prenda para o ganhador.
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O fole tocando um baião competente 
A moça passando com o primeiro beijo
Fogueira queimando ardendo o desejo.
O tempo é sábio e senhor dos trilhos
Brinca de quebra cabeça com a gente
E a vida adocica como broa de milho.